Sexta-feira, 14 de Setembro de 2007
Reportagem: Paulo Henrique amorim
"Fora Dualib, ladrão!" A revolta da torcida alvinegra é evidente, pedem a saída do presidente Alberto Dualib, que por 14 anos permaneceu à frente do Corinthians e há dois permitiu a venda parcial do clube para um grupo estrangeiro, a MSI. O início da parceria foi tranqüilo, craques foram contratados e o time conquistou o Brasileiro de 2005, um campeonato marcado pelo esquema de corrupção envolvendo o árbitro Edílson Pereira de Carvalho e lances polêmicos nas rodadas finais.
No ano seguinte, veio a Taça Libertadores, torneio de maior prestígio da América do Sul e que concede ao campeão uma vaga no Mundial, realizado no Japão. A equipe fazia uma boa campanha, classificou-se para a segunda fase, mas acabou eliminado pelo algoz River Plate, em pleno Pacaembu. Derrotas, vendas de jogadores e a saída de Kia Joorabchian, representante da MSI no país, culminaram em uma crise. O Corinthians passou a ser investigado devido às grandes quantias de dinheiro envolvendo o clube.
Apesar de representar a MSI e o próprio clube, o iraniano não passava de um fantoche. Quem estava por trás de tudo era o bilionário Boris Berezovsky, chefe da máfia russa. Procurado pela Interpol, organização policial internacional, Berezovsky tinha uma rede de tráfico de armas no Irá, cujo sócio era justamente o pai de Kia. Entre outras acusações está a lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, associação ilícita, fraude comercial e fraude bancária
Em depoimento à Polícia Federal, Berezovsky afirmou que o Corinthians era apenas uma diversão, na qual ele investiu US$ 32 milhões. O objetivo era montar um império como o que ele montou na extinta União Soviética. Matemático de sucesso, Boris largou tudo para ser dono de uma revendedora de automóveis, protegido pela máfia. Inteligente, tornou-se maior que os mafiosos e passou a tratar diretamente com o governo, sendo o homem mais rico do país e dono de 20 grandes empresas.
"O poderoso chefão do Kremlin" foi o título que o jornalista norte-americano Paul Klebnikov deu ao seu livro, no qual revela como Boris Berezovsky virou a importante figura que é hoje. Pelo caminho, o mafioso teria sido o responsável pela morte de Vladislav Listyev, apresentador de TV e crítico do Estado russo, ocorrida em 1995. O livro não passou despercebido. Em julho de 2004, Klebnikov foi assassinado enquanto caminhava em Moscou.
A sorte de Boris mudou com a entrada de Vladimir Putin no poder. Ex-agente da KGB, antigo serviço secreto russo, Putin julgou o chefão da máfia poderoso demais, e passou a perseguir o bilionário, obrigando-o a pedir asilo político na Inglaterra. Quem também sofreu com a perseguição foi Roman Abramovich, empresário do ramo petrolífero, que construiu seu império de forma polêmica no final da URSS e que também tem ligações com Berezovsky.
Com uma fortuna de quase US$ 15 bilhões, Abramovich decidiu investir parte de suas riquezas no esporte. Em 2003, comprou o Chelsea, equipe do futebol inglês, que até então não tinha nenhuma tradição no cenário do futebol internacional. Com a entrada do russo e cerca de US$ 800 milhões, o clube se reforçou com contratações milionárias e passou a figurar entre os grandes campeões europeus. Semelhanças com a MSI e o Corinthians não são meras coincidências.
Além do futebol, Berezovsky queria participar das atividades de diversos setores da indústria nacional. Tentou comprar a Varig, participar das concorrências da Petrobrás, investir no alumínio e criar uma rede de comunicação no Brasil. Conseguiu apenas financiar o Corinthians à distância, pois quando tentou entrar no país ano passado, foi preso pela Polícia Federal. Como queria saber até onde iam as ligações políticas do russo, a PF decidiu soltá-lo.
Entre as ilegalidades cometidas no clube paulista, está o pagamento de alguns jogadores, feito do exterior. O meia Ricardinho recebeu cerca de US$ 1,1 milhão do estrangeiro, enquanto Carlos Alberto recebia metade do salário da Suíça. Maior contratação da história do futebol brasileiro, o argentino Carlitos Tevez custou ao "cofre corintiano" US$ 20 milhões. Desse montante, o Boca Junior recebeu US$ 14 milhões da Just Sports, empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.
Mas como todo caso de corrupção no Brasil (que é investigado), deve terminar em pizza. O Ministério Público Federal interrompeu o trabalho da PF, pedindo a prisão de quem não pode ser preso, Boris Berezovsky, e não pediu a prisão de quem pode (e deve) ser preso, Alberto Dualib. E a torcida alvinegra continua a cantar. "Fora Dualib, ladrão!"
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