[01/ABR/2006]
ROMA - Neste momento, o livro mais lido, vendido e discutido na Itália divulga os resultados de uma investigação bem documentada sobre as origens e os mistérios da fortuna de Silvio Berlusconi, o italiano mais rico da terra, a quem o Financial Times, de Londres, conferiu o título de ''aspirante a Napoleão''. Ocupa o primeiro lugar na lista dos best sellers: em menos de um mês, já vendeu 250 mil exemplares. Até o fim de abril, deve chegar aos 350 mil, segundo as previsões de seus editores (Riuniti, de Roma), que já agradeceram publicamente ao cômico Daniele Luttazzi, apresentador do programa de televisão Satyricon, maior responsável pela explosão das vendas do livro. Explosão que foi provocada pela entrevista concedida pelo jornalista Marco Travaglio, um dos autores do best seller, e concluída com um caloroso cumprimento do apresentador Luttazzi ao repórter que demonstrara ser muito corajoso ''num país de m....''
O livro chama-se Lodore dei soldi (O odor do dinheiro). Seus autores são o deputado Elio Veltri, membro da comissão parlamentar antimáfia, e o jornalista de La Repubblica, Marco Travaglio, que usaram como matéria-prima uma ''pesada documentação'' reunida por magistrados, funcionários do Banco Central (Bankitalia) e agentes da Divisão Anti-Máfia (Dia).
Império - Formada por inquéritos, relatórios e uma entrevista inédita do juiz-mártir Paolo Borselino, pouco antes de ser assassinado pela máfia siciliana, nunca transmitida pela RAI nem publicada pela imprensa, a documentação sobre os primeiros bilhões de liras ganhos e movimentados por Berlusconi não poderia ser mais confiável. É indispensável para quem quiser se informar sobre a história do império construído do nada pelo cavaliere Silvio Berlusconi, hoje formado por 34 holdings que representam um aglomerado de centenas de empresas de televisão, cinema, publicidade, esportes, seguros, financeiras, viagens e transportes aéreos e de editoria (de livros, jornais e revistas). Segundo a revista americana Forbes, Silvio Berlusconi é o homem mais rico da Itália e o 23° de todo o mundo, com um patrimônio pessoal estimado em U$$13 bilhões.
O documento revelado pelo livro de Veltri e Travaglio que maior impacto teve na opinião publica foi a entrevista que o ex-juiz siciliano Paolo Borselino, grande amigo e colaborador do procurador Giovanni Falcone na batalha contra a Cosa Nostra, concedeu a dois jornalistas franceses, dois meses antes de ser eliminado por um comando de mafiosos, à porta da casa de sua mãe. Nessa entrevista, julgada ''superada e pouco interessante'' pelos editores dos telejornais das três emissoras Rai, Borselino considera provável e lógica a possibilidade de as primeiras empresas mais ambiciosas de Berlusconi terem sido financiadas nos anos 70 por Vittorio Mangano, um ''grande'' do tráfico de droga realizado pelas famílias mafiosas de Palermo, condenado duas vezes à prisão perpétua, que de 1973 a 1976 viveu, com mulher e dois filhos, em Villa Arcore, mansão com 140 quartos perto de Milão, a mais usada das residências de Berlusconi e sua família.
Amigo - Respondendo aos juízes que na década de 90 pediram-lhe que explicasse os anos de convivência íntima que teve com um mafioso tão perigoso, Berlusconi disse ter conhecido Vittorio Mangano por intermédio de seu amigo siciliano, ex-colega de universidade e sócio, Marcello DellUtri, que lhe sugeriu a contratação de Mangano, como cavalariço, e pediu-lhe que o recebesse e tratasse como amigo.
Aos jornalistas franceses que lhe perguntaram se não lhe parecia estranho que dois empresários da importância de Berlusconi e DellUtri se ligassem a mafiosos como Mangano, Borselino respondeu: ''No início dos anos 70, a Cosa Nostra começou a se tornar uma empresa, que através de uma presença cada vez mais forte, praticamente monopolista no tráfico de drogas, passou a administrar uma enorme massa de capitais, que procurou exportar ou depositar no exterior. Daí se explica a cumplicidade entre elementos da Cosa Nostra e certos empresários que se ocupavam de movimento de capitais. Portanto, é normal que o dono de grandes somas de dinheiro procure os instrumentos para empregar esse dinheiro, seja lavando-o, seja fazendo-o render altos juros''.
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