segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Itália quer brecar ''nova Máfia''

ARAUJO NETTO
ROMA -
Neste momento, na Itália, a prioridade número um da Direção de Investigações Antimáfia (DIA) é a prisão de Bernardo Provenzano, filho de uma família de camponeses de Corleone, que só estudou até o segundo ano da escola elementar, mas que aos 68 anos de idade é temido, respeitado e procurado como o chefe dos chefes das várias famílias mafiosas da Sicília. Nele, o presidente da Câmara dos Deputados e ex-magistrado Luciano Violante, terceira autoridade na hierarquia do Estado italiano, identifica o principal autor de mais uma reestruturação da Cosa Nostra, um projeto que pretende dar vida a uma nova máfia.
Projeto que foi antecipado por um recente relatório da DIA e tem como grande objetivo não mais o conflito, mas uma forma de convivência inteligente com o Estado e a sociedade. Que não se basearia mais em pactos políticos ou eleitorais com certos homens e partidos, como no passado aconteceu, mas procuraria se impor como um acordo interessante para a economia do país.
Pacto - Para dar esse salto de qualidade, a Cosa Nostra se dispõe a mudar seus métodos violentos e sanguinários. Admite a desativação de seu arsenal e a desmobilização dos ''soldados'' que recrutou e manteve a seu serviço para impor sua autoridade. ''Mudando de comportamento, a Cosa Nostra espera caracterizar o pacto que deseja estabelecer com a economia, em particular com a chamada nova economia, com suaves e insinuantes ingressos nas empresas que julgar mais interessantes'', diz Violante.
Ao recomendar a prisão de Provenzano como um dos dois objetivos fundamentais da DIA neste momento, o mesmo presidente da Câmara não quer iludir ninguém: ''Não se pense que ela resolveria tudo. Não. Mas com certeza resolveria um bom bocado dos problemas criados na Itália e no mundo pela Cosa Nostra. Porque a prisão de Provenzano [que assumiu o comando de todas as máfias desde a prisão de Totó Riina, em 1993]é a melhor aplicação das leis que permitem o controle das contas bancárias e o seqüestro das fortunas dos mafiosos. E essas leis são indispensáveis para a manutenção da legalidade democrática e para garantir competitividade da economia do país'', disse.
Fundos - Antecipando-se a quem poderia julgar exagerada a importância que atribui a Provenzano, camponês semi-analfabeto que só se mostrou talentoso e eficiente como o homem que sem se afastar muito de Palermo desde maio de 1963 não consegue ser achado por todas as polícias da Itália e da Europa, Luciano Violante argumenta que nos próximos seis anos serão investidos US$ 8 bilhões na Sicília. São fundos da União Européia da agenda 2000 que poderiam revolucionar positivamente toda a Sicília. E acrescenta: ''Além disso, em 2010 nascerá a área euro-mediterrânea de mercado livre, com 600 milhões de pessoas. A Sicília, em particular, poderia tornar-se a grande plataforma econômica, encruzilhada do tráfego e do comércio nessa mesma área''.
A veemência com que Violante, ex-magistrado que se destacou na luta contra o terrorismo e as máfias, insiste em considerar prioridade número um a prisão de Provenzano não leva em conta nem mesmo a recente prisão de seu braço direito, Benedetto Spera, colaborador mais próximo do chefe dos chefes, capturado depois de nove anos de fuga.
Sem negar que a prisão de Spera indica de fato que as forças antimáfia estão se aproximando de Provenzano, Violante insiste: ''Ele precisa ser preso o quanto antes. Não pode continuar fugitivo por mais de 30 anos''.

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