segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Escândalo à italiana

"Máfia faturou mais em Palermo
Empresas de testas-de-ferro da Cosa Nostra fizeram 67 obras de infra-estrutura e urbanização,
além do edifício-sede de órgãos do Departamento de Justiça que combatem o crime organizado."

Da Redação
Com Ansa e El País, de Madri
Alessandro Fucarini/AP

Policiais vigiam prédio construído por mafiosos e onde se realizou a conferência da ONU em Palermo
O escândalo envolvendo a construção do prédio de US$ 130 milhões onde foi realizada a conferência contra o crime organizado em Palermo (Itália), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi maior ainda do que se imaginava.
A cidade-sede da Cosa Nostra (máfia italiana) recebeu outros benefícios nos últimos três meses. Foram licitadas 67 obras de infra-estrutura e urbanização que melhoraram consideravelmente o aspecto decadente de Palermo para receber os representantes de 140 países encarregados de tomar providências contra o crime organizado, a lavagem de dinheiro, a corrupção e o tráfico de imigrantes, entre outras coisas.
A execução desses serviços e do moderno edifício de 37 mil metros quadrados — que abriga órgãos do Departamento de Justiça encarregados de combater a máfia e onde se realiza a conferência da ONU — ficou a cargo de empresas de testas-de-ferro da própria Cosa Nostra.
A investigação do caso está sendo feita desde setembro, quando o procurador-geral Pietro Grasso e o então prefeito Renato Profili receberam cartas anônimas denunciando a armação feita pela máfia. Mas só na quinta-feira essas informações vieram a público. Quem primeiro revelou a história foi o jornal italiano La Repubblica.
Esse escândalo revela uma mudança de estratégia dos chefões da máfia que, em vez de reagir violentamente contra a reunião organizada pela ONU debaixo de seus narizes, preferiram repartir as obras entre seus afilhados e ganhar dinheiro público. Isso seria uma demonstração de autoconfiança da Cosa Nostra, que parece não se sentir ameaçada pelos resultados da conferência.
As denúncias, que vieram à tona quinta-feira, derrubaram tudo o que disseram dois dias antes o atual prefeito de Palermo, Leoluca Orlando, e o subsecretário-geral da ONU e diretor do Programa Internacional sobre controle de drogas e prevenção da delinqüência, Pino Arlacchi.
‘‘Em Palermo, a máfia ainda existe, mas perdeu a hegemonia cultural, não controla mais a mentalidade das pessoas’’, afirmou o prefeito na abertura do encontro contra o crime organizado. Orlando foi além: ‘‘Até pouco tempo atrás Palermo exportava uma doença, a máfia, hoje exporta a terapia para combatê-la.’’
Arlacchi anunciou para todo mundo ouvir na tribuna da convenção das Nações Unidas que a máfia estava praticamente derrotada na Itália. Pelo jeito, essa instituição de 200 anos de idade continua dando as cartas, apesar dos esforços de membros do Judiciário que chegaram a dar a própria vida para combatê-la. Entre esses ‘‘mártires’’ estão os juízes sicilianos Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, mortos em 1992 em dois atentados diferentes.
SEGURANÇA NACIONAL
No dia de encerramento da Cúpula da Organização das Nações Unidas sobre crime organizado na Itália, a Casa Branca recebeu novas informações sobre a atividade da máfia nos Estados Unidos. Um informe de 120 páginas do Conselho Nacional de Segurança (CNS) afirma que organizações criminosas do país se modernizaram e seu combate merece esforços mais intensos.
Segundo os especialistas do CNS — que aconselham o presidente em assuntos de segurança nacional —, as organizações criminosas de origem italiana, chinesa, nigeriana e do Oriente Médio são as mais numerosas nos Estados Unidos. Adequadas à globalização e com a ajuda de tecnologia moderna, elas tornam mais difícil o trabalho da polícia.
Há dois anos, o presidente Bill Clinton encomendou essa pesquisa ao CNS. Ela concluiu que ‘‘a globalização criou um novo tipo de ameaça à segurança nacional, a qual não foi plenamente reconhecida pelo governo e pelo Congresso’’. O conselho recomenda a outros países que passem a considerar vários delitos — terrorismo, narcotráfico, prostituição e até roubo de automóveis — como ‘‘crimes globais’’, realizados por delinqüentes com contatos internacionais. Para o CNS, cada um desses crimes deve ser enfrentado como uma ameaça à segurança nacional.

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