mafia de nova york

Marcelo Batlouni Mendroni
As organizações criminosas mafiosas são, pos assim dizer, das mais clássicas encontradas na literatura mundial sobre o tema. Elas se caracterizam principalmente pela sua virtuosidade em se infiltrar no comércio, nos negócios de ramos diversos e na política, prevalecendo-se da fraqueza do Estado para daí retirar os seus proveitos, sempre em torno do eixo dinheiro-poder. Paul Castelano, ex-líder da família Gambino-NY chegou a afirmar: "Eu já não preciso mais de pistoleiros, agora quero deputados e senadores”.As máfias (termos já utilizados hoje em dia como gêneros, quando na verdade são espécies) assumem as suas principais características: 1 — Revelam estrutura hierárquico-piramidal (chefe, sub-chefe/conselheiro, gerentes e aviões), com no mínimo três níveis; 2 — Têm divisão direcionada de tarefas (segundo especialidades) e subdividida em estrutura modular, sendo a subdivisão dos módulos geralmente determinada pelos ramos das atividades criminosas variadas; 3 — Estabelecem número de membros restritos —cujas qualificações são comumente obtidas através de experiências, parentescos, raças, ficha (atuações) criminais e considerações similares. Além disso, aqueles que reunirem estas qualificações básicas ainda necessitam demonstrar determinadas "qualificações especiais", como, por exemplo, disposição para cometer ações criminosas, obedecer regras, seguir ordens, manter segredos etc.; 4 — Contam com agentes públicos participantes ou envolvidos, quer dizer, quando não participam efetivamente do grupo são corrompidos para viabilizar a execução das ações criminosas. Geralmente estão colocados em postos e locais estratégicos para poderem auxiliar (de qualquer forma) na execução das ações; 5 — Mantém a incontestável orientação para a obtenção de dinheiro e de poder; 6 — Fixam um Domínio Territorial, já que uma organização criminosa, para ser bem estabelecida, necessita de bases mais sólidas, necessita manter um domínio territorial considerado o seu QG; 7 — Buscam a diversificação de atividades, para se manterem em atividade constante; 8 — Mesclam atividades lícitas com atividades ilícitas: 9 — Usam da violência, quando necessário.Cada uma das cinco famílias mafiosas que atuam em Nova York tem um chefe (“Boss”), que emite as ordens e coordena as atividades mafiosas internacionais, mas ainda representa a “família” nas reuniões. Logo abaixo encontra-se o sub-chefe (“UnderBoss”), que recebe as ordens e mensagens e as redireciona para os gerentes, de cada um dos setores ativos, substituindo-o em caso de ausência para tomar decisões. O “conselheiro”, no mesmo nível hierárquico do sub-chefe (“consigliere”), é quem emite recomendações e serve como árbitro nas disputas internas. Em algumas famílias o conselheiro também atua na base operacional da família, acima e ordenando os gerentes. Abaixo deles, sub-chefe e “conselheiro”, estão os gerentes (“Caporegime”, “Capos” ou “captains”), que realizam o elo de ligação entre a chefia da família e os “soldados”. São designados pelas suas qualidades de comando, alto nível de fidelidade e especialidades nas atividades designadas. Os soldados (“soldiers”) são os executores diretos dos crimes. Atuam nas várias formas de criminalidade, também conforme suas habilidades. E, ainda, abaixo deles, podem ser encontrados os “colaboradores”, ou “associados” (“associates”) à família, os quais realizam determinadas tarefas para e em nome dos soldados, evitando a sua ação direta, diminuindo assim o risco de atuação da força pública. Os colaboradores normalmente apenas conhecem os soldados pelos apelidos, e não possuem maiores detalhes de sua identificação. Nada sabem sobre demais integrantes hierarquicamente superiores. São, por assim dizer, a “terceirização” do serviço criminoso, que praticamente impede a ação da justiça contra os acima posicionados na organização. Os “Capos” costumam representar os seus soldados nas disputas internas e também nas disputas com outras famílias mafiosas.Nova York, pela característica principal do imenso volume de dinheiro em circulação, é solo fértil para a proliferação das famílias mafiosas, e tem o maior número de integrantes da Cosa Nostra dos EUA, dividido em cinco famílias. Um levantamento realizado pela NYPD (New York Police Department), de 1983, estimava em aproximadamente 870 membros, sendo 250 da família Gambino; 200 da família Genovese, 115 da família Colombo, 195 da família Bonano e 110 da família Lucchese. Outras estimativas mais recentes aumentam o número para perto de mil integrantes. As estruturas das organizações criminosas mafiosas, como se vê, são extremamente organizadas e infiltram-se e corroem a economia e a política, abalando as estruturas do Estado. Nada têm a ver com o modelo de PCC ou CV. As máfias são constituídas por verdadeiros profissionais do crime. A cidade de São Paulo guarda muita semelhança com Nova York. Então, antes que o problema se torne inadministrável, é preciso que as autoridades constituídas tomem as decisões certas, aperfeiçoando as leis, criando estrutura aos órgãos de persecução com alto investimento e providenciem o treinamento adequado...ou então, enxergando aqui também terreno fértil, eles virão plantar o crime, do tipo mafioso.Quarta-feira, 25 de outubro de 2006